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![]() Foto de Fátima Peixoto ( Sr. João e Elza)
Vontade de mudar
Vou relatar uma história que ouvi em um sítio que fica em Ramada-PB, a 150 km da Capital João Pessoa. Ramada fica depois da cidade de Fagundes, que tem uma população de 11.049 habitantes (último IBGE), em seguida vem a zona rural formada por vários sítios. Fui convidada para um churrasco de um bode com um grupo de amigos(as). O churrasco foi embaixo de um pé de Juá, na frente da casa da prima de Luiz, um amigo do grupo, Dona Elza, senhora de estatura pequena, com lindos olhos azuis, calada, muito dinâmica, administrava tudo, porque estavam em sua casa nove pessoas, fora sua família. Dona Elza é a esposa de Sr. João, homem muito ocupado com os afazeres do sítio, mas sempre aparecia para conversar, muito comunicativo, sua conversa prende a atenção de quem está conversando com ele, quem está perto também, homem bom de conversa, que mora na zona rural muito tempo, casou-se, continuou no seu sítio, o casal teve dois filhos, que saíram em busca de trabalho em uma cidade grande. Sr. João, homem simples, corajoso, sonhador, trabalhador, por passar por muitas secas de rachar o chão, passou muito aperto com falta de água, para sobreviver vinham carros pipas abastecer sua cisterna. Sr. João começou a sonhar com a perfuração de um poço, quando falou da sua ideia, riram e disseram: “está sonhando”, “essa água nunca vai chegar aqui!”. Cada vez o negativismo dos amigos e vizinhos o estimulava. Ele não parou de sonhar e foi juntando dinheiro, seria uma astúcia muito grande, acreditar que um solo rochoso pudesse ser perfurado e jorrar água. Mas o Sr. João era teimoso, tinhoso mesmo. Ele continuou sonhando, tinha um dinheiro guardado e quando acabou tirou um empréstimo no banco, tamanha era sua confiança no projeto, começou a cavar o poço, claro, essa parte teve que contratar uma máquina para perfurar, quando começou a perfuração, só foi encontrada água a mais de 40 metros de profundidade. Agora como levar essa água para sua casa que fica a 800 metros. Porém nada era obstáculo para o Sr. João, ele começou a cavar a terra dura, rochosa, para fazer a encanação, começou sua saga (aventura), foi cavando sozinho, não teve ajuda de ninguém, porque ninguém acreditava no seu sonho, quando tinha tempo depois das atividades com os animais no sítio começava a cavar, ele foi comprando os canos devagar, comprava 20 metros, depois mais 20 metros e assim sucessivamente, foi muita luta, muito suor, não aparecia um cristão para ajudá-lo, foram dias de sacrifícios. Quando seu João chegou na metade do caminho foi fazer um teste a água jorrou, foi uma alegria só, logo os que não acreditavam ficaram espantados, o Sr. João vibrou de contentamento, acredito que quando se persiste em um sonho, ele acontece. A motivação do Sr. João, só aumentava, sua família ficou animada, eles já moravam muito tempo com o dilema de falta de água. ele poderia ficar só esperando a chuva, mas seu sonho foi maior, sua determinação, sua fé, sua esperança, sua coragem... Comportamento Nordestino, sonha e tenta realizar, porque tudo é muito difícil para quem mora longe da cidade. O projeto durou um ano de execução, começou em janeiro, terminou em dezembro de 2012, com a chegada da água a vida foi melhorando, plantaram feijão, milho, algumas fruteiras, os animais já tinham água para beber no tempo da estiagem e a vida de Dona Elza melhorou muito, antes ela tinha que carregar água da cisterna, quando tinha, para fazer todo serviço doméstico, agora tem água em todas as torneiras, comprou uma máquina de lavar roupa. É indescritível a alegria que sentiram, hoje doam água até para os que não acreditaram no projeto, quem sempre morou e mora na cidade, não imagina o quanto a água é valiosa para quem mora na zona rural. O sítio tem seus encantamentos, acordar com o canto dos passarinhos, as galinhas, gansos e guinés, correndo no terreiro. Alimentação saudável, sem falar nas paisagens, fui em uma época que estavam verdes, tudo muito lindo e tranquilo, como visitante essa é a observação, mas para quem mora, a luta no sítio é muito grande, quem ama a terra é feliz ou se acostumou com a vida de batalha, não espera, vai em busca de melhorias, como diz Geraldo Vandré: “quem sabe faz a hora, não espera acontecer.”
Fátima Peixoto 10/11 de Julho de 2024 Foto do Sr. João ( Caixa d'água que abastece o sítio )
Foto de Fátima Peixoto ( casa de taipa preservada para guardar as ferramentas do sítio)
Fátima Peixoto
Enviado por Fátima Peixoto em 05/08/2024
Alterado em 07/08/2024 Comentários
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